Onde enfiar tanta dor? Uma pessoa só não é o bastante. E não é exagero como vocês pensam. A realidade é a pura tragédia mesmo. Não tenho a quem recorrer... O peito queima e as lágrimas escorrem. Nada está ao meu alcance agora. Ninguém me estende a mão. Não avisto a ajuda. Estou presa dentro de mim mesma, sem chave. E meu corpo pega fogo, minha garganta ferve ódio. Os olhos são vazios, sem esperança e sem fim nenhum. A boca clama por socorro, treme medo, seca como as folhas no outono. A pele branca como as páginas de um livro, fria como a neblina, intocável como o ar. O corpo oco, sem alma. A carne podre.
sábado, 14 de agosto de 2010
Vazio, silêncio e solidão.
Onde enfiar tanta dor? Uma pessoa só não é o bastante. E não é exagero como vocês pensam. A realidade é a pura tragédia mesmo. Não tenho a quem recorrer... O peito queima e as lágrimas escorrem. Nada está ao meu alcance agora. Ninguém me estende a mão. Não avisto a ajuda. Estou presa dentro de mim mesma, sem chave. E meu corpo pega fogo, minha garganta ferve ódio. Os olhos são vazios, sem esperança e sem fim nenhum. A boca clama por socorro, treme medo, seca como as folhas no outono. A pele branca como as páginas de um livro, fria como a neblina, intocável como o ar. O corpo oco, sem alma. A carne podre.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Diga adeus, Romeu.

Gritos vindos do meu sótão. Que inferno! Será que isso não terá fim jamais? Logo eu, que sempre vivi na escuridão silenciosa e sufocante, agora estava cercada de vozes que imploravam meu perdão. Imploravam por ajuda. Eu até poderia poupar-lhe a vida, mas eu quero, eu preciso de um minuto de paz, e enquanto ele continuar respirando, eu nunca terei. Alguém nesta casa irá morrer esta noite, e ainda não é minha hora.
“Socorro, socorro! Alguém me ajude!”. Como ele era patético. Eu não entendi como aquele miserável ainda tinha forças para gritar tão alto, pois ele estava trancafiado ali havia três dias, sem comida ou bebida. Só ele e seus machucados. Pensei que ele morreria rápido, mas é mais forte do que pensei, o que é até bom, pois agora ele pode provar do próprio veneno, pode ter a chance de sofrer tanto quanto eu sofri quando ele me abandonou na escuridão.
A sala estava fria, e o sofá antigo já não era tão confortável. Minhas costas doíam e minhas pernas latejavam. O pêndulo no canto da sala soou, informando-me que já era meia-noite. A hora tão esperada. Levantei-me do sofá com esforço e segui caminhando lentamente para a cozinha. Abri a única gaveta inteira naquele armário caindo aos pedaços, mas não havia nenhum talher ali, e sim uma pistola. Uma glock 17, calibre 9mm para ser exata. Meu pai era militar, isso talvez explique minha paixão por armas de fogo. Mas naquela pistola só havia uma bala, que já tinha destino certo.
Subi lentamente a escada, e a cada degrau que eu subia, os gritos iam se silenciando calmamente, enquanto a madeira rangia cada vez mais alto.
John, meu irmão mais novo, estava de vigia na porta. Ele me abraçou e senti seus lábios tocarem minha bochecha. Senti seu corpo definido apertando o meu, quando foi que ele tinha crescido tanto assim? Eu podia sentir a tensão no seu abraço.
– Tudo bem John, tudo acabará esta noite e amanhã será uma nova vida. – sussurrei ao seu ouvido. Ele apenas afirmou com a cabeça, destrancou a porta e me deu passagem. Entrei naquele lugar escuro e logo pude localizar seus olhos. Azuis. Lembrei-me de quando mergulhei naquela imensidão azul sem saber o que me aguardava. Seus olhos faiscavam em minha direção, e eu não entendi o significado disso. Encostei a porta, sem tirar os olhos dele. Pude ouvir John descendo a escada.
– Olá querido – ele estava tremendo. E ele estava chorando. – Não tenha medo, meu amor. Será muito rápido e todo esse sofrimento irá passar. – Acho que eu falava isso mais tentando convencer a mim mesma, do que a ele.
Apontei a arma em sua direção, mas algo me deteve. Aqueles olhos avançavam para mim. Sua respiração, eu já podia sentir, estava forte e quente. Vi seus olhos se fechando, e os meus também, instintivamente. Um segundo depois, nossas almas estavam sendo trocadas mais uma vez, e o fogo nos consumia. Mas a dor ainda dominava meu peito, e o desespero de que toda a dor acabasse de uma vez, falou mais alto. Encostei o cano em seu peito, enquanto nossos lábios se consumiam no fogo e no gelo. Um disparo, o tiro certeiro. Ele estava caído aos meus pés, para sempre. O melhor beijo da minha vida. E então eu pude estar mais uma vez com meu melhor amigo: o silêncio.
“Socorro, socorro! Alguém me ajude!”. Como ele era patético. Eu não entendi como aquele miserável ainda tinha forças para gritar tão alto, pois ele estava trancafiado ali havia três dias, sem comida ou bebida. Só ele e seus machucados. Pensei que ele morreria rápido, mas é mais forte do que pensei, o que é até bom, pois agora ele pode provar do próprio veneno, pode ter a chance de sofrer tanto quanto eu sofri quando ele me abandonou na escuridão.
A sala estava fria, e o sofá antigo já não era tão confortável. Minhas costas doíam e minhas pernas latejavam. O pêndulo no canto da sala soou, informando-me que já era meia-noite. A hora tão esperada. Levantei-me do sofá com esforço e segui caminhando lentamente para a cozinha. Abri a única gaveta inteira naquele armário caindo aos pedaços, mas não havia nenhum talher ali, e sim uma pistola. Uma glock 17, calibre 9mm para ser exata. Meu pai era militar, isso talvez explique minha paixão por armas de fogo. Mas naquela pistola só havia uma bala, que já tinha destino certo.
Subi lentamente a escada, e a cada degrau que eu subia, os gritos iam se silenciando calmamente, enquanto a madeira rangia cada vez mais alto.
John, meu irmão mais novo, estava de vigia na porta. Ele me abraçou e senti seus lábios tocarem minha bochecha. Senti seu corpo definido apertando o meu, quando foi que ele tinha crescido tanto assim? Eu podia sentir a tensão no seu abraço.
– Tudo bem John, tudo acabará esta noite e amanhã será uma nova vida. – sussurrei ao seu ouvido. Ele apenas afirmou com a cabeça, destrancou a porta e me deu passagem. Entrei naquele lugar escuro e logo pude localizar seus olhos. Azuis. Lembrei-me de quando mergulhei naquela imensidão azul sem saber o que me aguardava. Seus olhos faiscavam em minha direção, e eu não entendi o significado disso. Encostei a porta, sem tirar os olhos dele. Pude ouvir John descendo a escada.
– Olá querido – ele estava tremendo. E ele estava chorando. – Não tenha medo, meu amor. Será muito rápido e todo esse sofrimento irá passar. – Acho que eu falava isso mais tentando convencer a mim mesma, do que a ele.
Apontei a arma em sua direção, mas algo me deteve. Aqueles olhos avançavam para mim. Sua respiração, eu já podia sentir, estava forte e quente. Vi seus olhos se fechando, e os meus também, instintivamente. Um segundo depois, nossas almas estavam sendo trocadas mais uma vez, e o fogo nos consumia. Mas a dor ainda dominava meu peito, e o desespero de que toda a dor acabasse de uma vez, falou mais alto. Encostei o cano em seu peito, enquanto nossos lábios se consumiam no fogo e no gelo. Um disparo, o tiro certeiro. Ele estava caído aos meus pés, para sempre. O melhor beijo da minha vida. E então eu pude estar mais uma vez com meu melhor amigo: o silêncio.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Diário de um cão.
1ª semana:
Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo!
1º mês:
Minha mamãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!
2 meses:
Hoje me separaram de minha mamãe. Ela estava muito inquieta e, com seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova “família humana ” cuide tão bem de mim como ela o fez.
4 meses:
Cresci rápido; tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como “irmãozinhos”. Somos muito brincalhões, eles me puxam o rabo e eu os mordo de brincadeira.
5 meses:
Hoje me deram uma bronca. Minha dona se incomodou porque fiz “pipi” dentro de casa. Mas nunca me haviam ensinado onde deveria fazê-lo. Além do que, durmo no hall de entrada. Não deu para agüentar.
8 meses:
Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido… Acho que a minha família humana me ama e me consente muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, me excedo, cavando na terra como meus antepassados, os lobos quando escondiam a comida. Nunca me educam. Deve ser correto tudo o que faço.!
12 meses:
Hoje completo um ano. Sou um cão adulto.
Meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulho devem ter de mim!!
13 meses:
Hoje me acorrentaram e fico quase sem poder movimentar-me até onde tem um raio de sol ou quando quero alguma sombra.
Dizem que vão me observar e que sou um ingrato. Não compreendo nada do que está acontecendo.
15 meses:
Já nada é igual… Moro na varanda. Sinto-me muito só. Minha família já não me quer! Às vezes esquecem que tenho fome e sede. Quando chove, não tenho teto que me abrigue…
16 meses:
Hoje me desceram da varanda. Estou certo de que minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear em sua companhia!Nos direcionamos para a rodovia e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos nosso dia no campo. Não compreendo porque fecharam a porta e se foram. “Ouçam, Esperem!” lati… se esqueceram de mim… Corri atrás do carro com todas as minhas forcas. Minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Haviam me esquecido.
17 meses:
Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algum alimento. Eu lhes agradeço com o meu olhar, desde o fundo de minha alma. Eu gostaria que me adotassem: seria leal como ninguém!
Mas somente dizem: “pobre cãozinho, deve ter se perdido.”
18 meses:
Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como meus “irmãozinhos”. Aproximei-me e um grupo deles, rindo, me jogou uma chuva de pedras “para ver quem tinha melhor pontaria”. Uma dessas pedras feriu-me o olho e desde então, não enxergo com ele.
19 meses:- Quando estava mais bonito, tinham compaixão de mim. Já estou muito fraco; meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e as pessoas me mostram a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.
20 meses:
Quase não posso mover-me! Hoje, ao tentar atravessar a rua por onde passam os carros, um me jogou! Eu estava no lugar seguro chamado “calçada”, mas nunca esquecerei o olhar de satisfação do condutor, que até se vangloriou por acertar-me. Quisera que tivesse matado! Mas só me deslocou as cadeiras! A dor e terrível!
Minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho..
Faz dez dias que estou embaixo do sol, da chuva, do frio, sem comer. Já não posso mexer-me! A dor é insuportável! Sinto-me muito mal; fiquei num lugar úmido e parece que até o meu pelo esta caindo…Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: “não chegue perto”. Já estou quase inconsciente; mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A doçura de sua voz me fez reagir. “Pobre cãozinho, olha como te deixaram”, dizia… junto com ela estava um senhor de avental branco. Começou a tocar-me e disse: “Sinto muito senhora, mas este cão já não tem remédio”. É melhor que pare de sofrer”.
A gentil dama, com as lágrimas rolando pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar. Somente senti a picada da injeção e dormi para sempre, pensando em porque tive que nascer se ninguém me queria…
Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo!
1º mês:
Minha mamãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar!
2 meses:
Hoje me separaram de minha mamãe. Ela estava muito inquieta e, com seu olhar, disse-me adeus. Espero que a minha nova “família humana ” cuide tão bem de mim como ela o fez.
4 meses:
Cresci rápido; tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como “irmãozinhos”. Somos muito brincalhões, eles me puxam o rabo e eu os mordo de brincadeira.
5 meses:
Hoje me deram uma bronca. Minha dona se incomodou porque fiz “pipi” dentro de casa. Mas nunca me haviam ensinado onde deveria fazê-lo. Além do que, durmo no hall de entrada. Não deu para agüentar.
8 meses:
Sou um cão feliz! Tenho o calor de um lar; sinto-me tão seguro, tão protegido… Acho que a minha família humana me ama e me consente muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, me excedo, cavando na terra como meus antepassados, os lobos quando escondiam a comida. Nunca me educam. Deve ser correto tudo o que faço.!
12 meses:
Hoje completo um ano. Sou um cão adulto.
Meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulho devem ter de mim!!
13 meses:
Hoje me acorrentaram e fico quase sem poder movimentar-me até onde tem um raio de sol ou quando quero alguma sombra.
Dizem que vão me observar e que sou um ingrato. Não compreendo nada do que está acontecendo.
15 meses:
Já nada é igual… Moro na varanda. Sinto-me muito só. Minha família já não me quer! Às vezes esquecem que tenho fome e sede. Quando chove, não tenho teto que me abrigue…
16 meses:
Hoje me desceram da varanda. Estou certo de que minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear em sua companhia!Nos direcionamos para a rodovia e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e eu desci feliz, pensando que passaríamos nosso dia no campo. Não compreendo porque fecharam a porta e se foram. “Ouçam, Esperem!” lati… se esqueceram de mim… Corri atrás do carro com todas as minhas forcas. Minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Haviam me esquecido.
17 meses:
Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algum alimento. Eu lhes agradeço com o meu olhar, desde o fundo de minha alma. Eu gostaria que me adotassem: seria leal como ninguém!
Mas somente dizem: “pobre cãozinho, deve ter se perdido.”
18 meses:
Um dia destes, passei perto de uma escola e vi muitas crianças e jovens como meus “irmãozinhos”. Aproximei-me e um grupo deles, rindo, me jogou uma chuva de pedras “para ver quem tinha melhor pontaria”. Uma dessas pedras feriu-me o olho e desde então, não enxergo com ele.
19 meses:- Quando estava mais bonito, tinham compaixão de mim. Já estou muito fraco; meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e as pessoas me mostram a vassoura quando pretendo deitar-me numa pequena sombra.
20 meses:
Quase não posso mover-me! Hoje, ao tentar atravessar a rua por onde passam os carros, um me jogou! Eu estava no lugar seguro chamado “calçada”, mas nunca esquecerei o olhar de satisfação do condutor, que até se vangloriou por acertar-me. Quisera que tivesse matado! Mas só me deslocou as cadeiras! A dor e terrível!
Minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho..
Faz dez dias que estou embaixo do sol, da chuva, do frio, sem comer. Já não posso mexer-me! A dor é insuportável! Sinto-me muito mal; fiquei num lugar úmido e parece que até o meu pelo esta caindo…Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: “não chegue perto”. Já estou quase inconsciente; mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A doçura de sua voz me fez reagir. “Pobre cãozinho, olha como te deixaram”, dizia… junto com ela estava um senhor de avental branco. Começou a tocar-me e disse: “Sinto muito senhora, mas este cão já não tem remédio”. É melhor que pare de sofrer”.
A gentil dama, com as lágrimas rolando pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar. Somente senti a picada da injeção e dormi para sempre, pensando em porque tive que nascer se ninguém me queria…
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
The Darkness
É como se eu estivesse num poço bem fundo, no meio da escuridão, e a cada dia que passa, esse poço fica um metro mais fundo. Não há solução, ninguém pode me salvar. Não gaste suas palavras comigo, eu acabei ficando surda depois de tanto tempo sentada aqui sozinha. Não gaste seus afagos comigo, pois eu fiquei insensível depois de tanto tempo sem me mover. Não tente me fazer falar, porque eu perdi a voz quando eu caí nesse abismo. Não se faça de inocente, nem de bonzinho, porque isso é uma coisa que você com certeza não é. O diabo tem várias faces. Talvez o inferno não seja tão ruim quanto parece. Talvez eu apenas preciso de me livrar desse fantasma que me assombra: você.

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