terça-feira, 30 de novembro de 2010
Dear Sam,
Desde quando você se foi (mas não foi por inteiro, deixou uma parte sua comigo, e levou o meu coração), a morte se tornou meu mais desesperador e sufocante desejo. Se tornou minha melhor amiga, na verdade. Sempre estou perto dela, querendo ficar com ela para sempre.
Ouço palavras que sussurram em meus ouvidos, silenciam meus gritos, pedidos de socorro, pedidos de morte, sinceras e solenes desculpas, e últimos adeus. Só estarei bem quando eu estiver com você novamente, podendo mergulhando nessa imensidão sem fim, que você chama de olhos, lindos olhos verdes. Quero te amar lentamente, para sempre, sem pressa, do jeito que tem que ser.
A brisa balançando levemente minha saia, me traz seu doce cheiro. Seu cheiro que ainda está em meus lençóis, meu sofá, minha mente. Não sei lidar com a saudade, não sei lidar com o amor, não sei lidar com a perda. Você não me ensinou a lidar com essas coisas. Você me deixou muito cedo. Isso não é certo, é?
If you die tonight, please wait me on the other side.
O banheiro está cheio de sangue, Sam. Me espere, por favor, estou chegando. Quero continuar a viver, ou melhor, quero ter uma morte eterna ao seu lado.
Talvez você perceba que eu nunca vou deixa-lo ir.
Demônios

E ali eu esperava a minha pena de morte.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
LoveBomb

(02:00) Tic tac, tic, tac...
Pude ver seus olhos verdes e profundos tão concentrados enquanto ela lutava contra o tempo.
(01:54) Tic tac, tic, tac...
Aqueles olhos que me lembravam tantas coisas... o oceano, a praia, tão bela no primeiro dia em que a vi, e me perdi totalmente em seus braços. Mas agora não era momento para fechar os olhos e sorrir ao lembrar de nossos beijos quentes na areia da praia.
(1:32) Tic tac, tic, tac...
O tic tac era desconfortavelmente irritante no meio daquele silêncio todo. Suas mãos ágeis, que eu conhecia muito bem, estavam se mexendo rápido, tentando desvendar a solução, tentando descobrir qual era o fio certo a ser cortado. O vinco formado em sua testa a deixava muito mais charmosa, e ah, como eu adorava aquilo.
(01:00) BOOM! Gritos. Tiros. Sangue. A bomba no prédio ao lado explodiu antes do tempo. Cortaram o fio errado, com certeza. Olhei pela janela do último andar e pude ver o prédio, ameaçado com um ataque terrorista mais cedo, desmoronar feito castelo de areia. Voltei para o lado da minha musa, precisávamos fazer algo.
(00:45) Tic tac, tic, tac...
Fio verde ou vermelho?
(00:40)
Verde. A cor da grama, da esperança. Verde a cor de seus olhos. A cor do oceano.
(00:30)
Vermelho. A cor do sangue, da rosa. Vermelho a cor de sua lingerie. A cor do nosso amor.
(00:19)
Tic tac, tic tac...
Vermelho. Com nossas mãos entrelaçadas, seguramos juntos a tesoura. Já estava na hora de acabar com essa brincadeira
(00:07)
Tic tac, tic tac...
A tesoura se fechou, maciamente sobre o fio vermelho.
(00:03)
Silêncio. Nossos lábios se tocaram, comemorando mais uma missão completa.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Sangue e tatuagem

Resolvi entrar com o pé direito, quem sabe o que poderia dar errado. Dar errado. O que mais me assustava era isso: E se algo desse errado?
Meus olhos nervosos encontraram os olhos atenciosos da sorridente e simpática atendente.
– Oi, eu marquei hora com o David. – Falei, tentando não tremer a voz.
– Ah, você é o Charlie, né? 13:00h. – Ela disse, enquanto checava os horários na tela do computador. – Só espere um minutinho, e já começaremos a sessão. O David só está terminando de esterelizar o equipamento.
Acenei com a cabeça e ela sorriu tentanto me tranqüilizar, percebendo meu medo.
Acho que fiquei uns cinco minutos esperando, mas pra mim mais pareceram cinco anos. Já que eu estava ali, que terminasse logo.
– Eaí cara, pronto pra sua primeira tatuagem? – Um homem apareceu na porta. Não sei como era possível caber tantas cores na pele dele. – Você tem certeza né, pois tatuagem não é que nem escova permanente, ok?
– Ok, – respirei fundo – vamos lá.
Sentei naquela cadeira confortável demais, olhei a caneta de tatuar brilhante demais, que emitia barulho demais, e que me dava medo demais. Fechei os olhos e então começou. Parecia que eu estava sendo devorado por milhões de formigas! Ou melhor, parecia que elas andavam, ou nadavam, em minhas veias, tomando meu sangue com vontade. A dor era insuportável, e aquele zunido havia dominado meu cérebro. Reabri os olhos, já devia estar acabando.
... Sangue?
– O QUÊ VOCÊ TÁ FAZENDO, CARA? TÁ LOUCO? – eu me desesperei.
Meu braço sangrava, na verdade, ele estava pendurado por um tendão, ou seja, eu não tinha mais braço direito. David apenas olhava para o chão. Dei-lhe um soco, derrubando-o e deixando seus olhos de vidro, sem vida, voltados para mim. Seus dentes, agora amarelados, ficaram à mostra. Num rápido movimento, suas mãos, garras afiadas, estavam em volta da minha garganta e aquele seria o meu...
– GAROTO! Garoto, acorda! – Alguém gritava ao meu lado.
Me vi dentro do ônibus. Ah! Meu ponto estava chegando. Desci e parei em frente àquele lugar sombrio. David Tattoo.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Anjos também amam

– O que fazes aí, Tom? – Ouvi o som da voz de Michel atrás de mim. – Ande, me responda, o que faz sentado na nuvem observando aquela humana?
– Eu... – eu precisava contar, já não suportava aquilo preso dentro de mim. – eu... acho que estou apaixonado, Michel.
Ele arregalou os olhos, acho que era a primeira vez que isso acontecia no céu. Pude ver a fúria nos seus olhos, e num segundo depois eu não sabia mais onde estava. Eu tinha desmaiado? Peraí! Eu estava no chão? Cadê minhas asas? Oh céus, ele me condenou a uma vida na terra.
Já que não tenho nada a perder, preciso saber o que aquela bela garota sente por mim. Procurei-a por todo lado, e avistei-a na saída de uma escola. Que formosura. Um largo sorriso tomou conta do meu rosto, e meu coração se encheu de felicidade.
– Olá, meu nome é Tom, posso falar contigo um instante, linda senhorita? – Ela me olhou desconfiada, mas seguiu ao meu lado em silêncio. Lá atrás pude perceber seus amigos rindo, não sei do quê.
– Diga rápido, porque meu tempo é muito valioso para perder com alguém como você.
– Ok, eu sou um anjo... quero dizer, era. E te vigiei, protegi e te amei por muito tempo. Você me ama?
Ela ria, por quê?
– Eu não te amo, nunca vou te amar. E vê se da próxima vez arranja uma cantada melhor, babaca.
– Cantada? – fiquei sem entender.
– Será que vou ter que desenhar pra você entender? – Ela deu um sorrisinho malicioso, puxou um garoto que passava por nós e o beijou.
Senti meu coração se partir enquanto ela limpava o batom borrado e seguia em direção aos seus amigos que gargalhavam mais alto ainda. Era uma dor muito intensa, eu não podia suportar aquilo. Senti algo mudar em mim... minhas asas! Voltaram!
Eu seguia em direção ao céu novamente, e olhei na direção dela. Ela estava caída no chão, e o anjo das trevas carregava sua alma do colo, levando-a para o inferno.
– Agora você entendeu porque não se pode apaixonar por um humano? – ouvi a voz de Michel mais uma vez, encarei-o fundo nos olhos e dei-lhe o abraço mais apertado, enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto.
Misto quente vs. Amor

Eu repetia para a vendedora, impaciente.
Ela vinha com a desculpa de que o queijo estava em falta,
Eu sei, mas o presunto tava em alta.
“Misto quente sem queijo, não é misto quente”
Ela ousou dizer aquilo na minha frente.
Eu não ia deixar ela falar mau
Do meu misto quente, minha refeição final.
Já que era meu ultimo dia de vida
Eu precisaria aproveitar cada alimento e bebida.
Mc’Donalds era meu lugar favorito,
Onde eu me sentia bem, onde qualquer um se sente querido.
O melhor misto quente servido pelo Johnny
Meu “garçom particular”, um amigo, um grande homem.
Apenas ele sabia o que eu queria,
E não era só uma porção, um pedaço ou uma fatia.
Eu comia muito, ele já era acostumado,
Mas ele não sabia do desejo de tê-lo como namorado.
Agora é tarde demais, pois não há mais tempo, não há mais jeito,
O que me resta é morrer com esta dor no peito.
Este misto quente que estava em falta, seria meu companheiro,
Meu companheiro do estomago, de banheiro.
Johnny vinha em minha direção,
Disse que ia me arranjar um misto quente bem grandão.
Mal sabe ele da alegria que me proporcionara,
Nem o tanto que eu o amara.
Pelo estacionamento caminhamos,
Atrás do misto quente tão desejado, mas convenhamos,
Eu tinha outros pensamentos,
Outros lamentos.
Fiz o parar, bem na minha frente,
De modo eu que poderia olhar em seus olhos e ler sua mente.
Inclinei-me para seu lado, pensando naquele misto quente,
Que poderia ser substituído por um beijo ardente.
Nossos lábios se encostaram, mas já era tarde demais,
O câncer que destruira meus órgãos, me fizera fraca, não deixará este beijo ser selado jamais.
Em seus braços eu parei de respirar,
Dos meus olhos podia se ver uma lagrima rolar.
Uma lagrima de alegria por você ter-me levado para caminhar
Atrás do misto quente, meu favorito, que eu estava tanto a desejar.
Mas no caminho percebi que o meu favorito era amar.
O favorito que eu acabara de beijar.
Olhos vermelhos

Flashes vieram a tona na minha cabeça. Da tarde que eu estava a brincar no meu quarto e vi aquele ser místico, mágico sair do meu guarda-roupa. Pelo que eu tinha lido nos livros, eu sabia que aquilo era um elfo. Mas ele tinha dentes... afiados. “Não tenha medo” ele sussurrou para mim. Eu estava congelado, hipnotizado por seus olhos vermelhos. E num instante seguinte seus dentes estavam cravados em meu pescoço e eu lutava em vão.
Observei por mais um segundo as marcas profundas e eternas no meu rosto e no meu pescoço. Agora eu lembrava porque o espelho estava no guarda-roupa. Fechei a porta do meu guarda roupa com um estrondo, e voltei a dormir, quem sabe eu me viria livre daquele pesadelo.