
Resolvi entrar com o pé direito, quem sabe o que poderia dar errado. Dar errado. O que mais me assustava era isso: E se algo desse errado?
Meus olhos nervosos encontraram os olhos atenciosos da sorridente e simpática atendente.
– Oi, eu marquei hora com o David. – Falei, tentando não tremer a voz.
– Ah, você é o Charlie, né? 13:00h. – Ela disse, enquanto checava os horários na tela do computador. – Só espere um minutinho, e já começaremos a sessão. O David só está terminando de esterelizar o equipamento.
Acenei com a cabeça e ela sorriu tentanto me tranqüilizar, percebendo meu medo.
Acho que fiquei uns cinco minutos esperando, mas pra mim mais pareceram cinco anos. Já que eu estava ali, que terminasse logo.
– Eaí cara, pronto pra sua primeira tatuagem? – Um homem apareceu na porta. Não sei como era possível caber tantas cores na pele dele. – Você tem certeza né, pois tatuagem não é que nem escova permanente, ok?
– Ok, – respirei fundo – vamos lá.
Sentei naquela cadeira confortável demais, olhei a caneta de tatuar brilhante demais, que emitia barulho demais, e que me dava medo demais. Fechei os olhos e então começou. Parecia que eu estava sendo devorado por milhões de formigas! Ou melhor, parecia que elas andavam, ou nadavam, em minhas veias, tomando meu sangue com vontade. A dor era insuportável, e aquele zunido havia dominado meu cérebro. Reabri os olhos, já devia estar acabando.
... Sangue?
– O QUÊ VOCÊ TÁ FAZENDO, CARA? TÁ LOUCO? – eu me desesperei.
Meu braço sangrava, na verdade, ele estava pendurado por um tendão, ou seja, eu não tinha mais braço direito. David apenas olhava para o chão. Dei-lhe um soco, derrubando-o e deixando seus olhos de vidro, sem vida, voltados para mim. Seus dentes, agora amarelados, ficaram à mostra. Num rápido movimento, suas mãos, garras afiadas, estavam em volta da minha garganta e aquele seria o meu...
– GAROTO! Garoto, acorda! – Alguém gritava ao meu lado.
Me vi dentro do ônibus. Ah! Meu ponto estava chegando. Desci e parei em frente àquele lugar sombrio. David Tattoo.
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