quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Perdoe-me por estar errada


Seus olhos negros tiravam minha concentração, eu não conseguia terminar de arrumar as roupas na mala enquanto ele me fitava daquele jeito acusador. Eu não tinha culpa, era uma viagem de trabalho e se eu não fosse, perderia o emprego. Antes tivesse ouvido Matt.
— Algo está errado Andie, eu posso sentir. – Matt era muito supersticioso, mas dessa vez ele estava completamente certo, e eu odeio admitir isso. Por minha culpa, agora ele está chorando. Eu posso o ver daqui. Posso ver seus olhos sem o brilho de anteontem de manhã, seu sorriso sem a felicidade estampada, e as lágrimas que cortavam sua linda pele. Mas como eu sou teimosa, fui do mesmo jeito, não podia perder um emprego tão bom como aquele.
Terminei de arrumar as malas às 13:30h. Meu avião partiria às 15:00h, então Matt não poderia me acompanhar até o aeroporto, pois Geovanna – nossa linda filha, fruto desse lindo amor – chegaria da escolinha. Eu não poderia me despedir dela, então deixei um presente, uma boneca para ser exata, pois era o que ela mais gostava. Me despedi de Matt e então parti. Às 14:00h eu já estava no carro, rumando para meu ponto de partida – aonde eu nunca chegaria.
Ao parar em um semáforo, senti um arrepio e então um homem de preto parou ao lado do carro, com uma arma apontada para mim. A primeira coisa que veio à minha cabeça foi Geovanna e Matt.

— Saia do carro, agora, ou eu vou atirar! – O homem gritava com uma voz rouca. Saí do carro, com o pensamento em minha família. Pensei que o pesadelo acabaria logo, mas mais uma vez eu estava errada. O homem não estava sozinho. Seu companheiro me agarrou e me jogou no banco de trás do meu próprio carro, e sentou do meu lado, me deixando sob a mira de sua arma, enquanto o primeiro cara dirigia à toda, furando todos os sinais e quebrando todas as regras.
Fui vendada, então não sei direito aonde estive. Só sei que eu não gostaria de ter estado ali. Havia ratos e baratas por todo canto, eu sentia eles passarem sobre meus pés amarrados à cadeira. Então o pano que tapava meus olhos, foi removido, e uma luz forte me fez ficar desnorteada. Logo, tudo entrou em foco, e pude ver um par de olhos – tristes – me observando.
— Você é feliz? – Tentei falar, mas eu tinha sido amordaçada, então balancei a cabeça afirmativamente.

— E para conseguir tal fato você precisou destruir uma vida, certo? – Fiquei confusa, “destruir uma vida”? O que ela queria dizer com isso? Balancei negativamente a cabeça.

— ERRADO! – Senti uma pancada por trás da minha cabeça, e tudo escureceu.

Após algum tempo, eu acordei, e eu estava livre...? Olhei ao meu redor, e não avistei ninguém. Espere! Havia algo jogado dentro da lata de lixo, beirando à rua, pois ela não fechava direito. Era um beco, onde ratos e baratas faziam a festa. Mas eles não podiam mais me tocar... eles passavam através de mim. Examinei a lata. Havia sangue escorrendo, algumas moscas e um cheiro desagradável. Levei a mão para abrir a lata, mas ouvi um barulho, então um cara vestido com uma roupa laranjada entrou no beco e pegou a lata.

— Nossa, que pesada... jogaram o quê será aqui, chumbo? – Então ele saiu do beco em direção ao caminhão de lixo, e eu corri atrás dele. Ele virou a lata dentro do caminhão, foi quando ele arregalou os olhos e ficou paralisado. Parecia que ele tinha sido congelado no lugar.

— Doug, o que houve? – O motorista do caminhão gritou, olhando pelo retrovisor, mas sem sucesso, não obteve resposta. Ele desceu do caminhão e foi ver o que havia de errado. Chegando lá, ao olhar para a lata caída no chão, viu o sangue, e com medo, olhou para dentro do caminhão. O que ele viu, o fez vomitar, e Doug o acompanhou. Algum tempo depois, as sirenes se aproximavam, e eu vi me corpo ser levado pela perícia.

Agora estou aqui, no meu enterro. E o que eu mais temia, acabou acontecendo: eu estava errada, e isso custou a alegria de toda minha família. Estou condenada a uma vida – ou devo dizer morte? – de infortúnios na Terra. Prometo não trazer mais tristeza à vocês, meus amados. Pude perceber que Geovanna segurava a boneca que eu havia lhe deixado, enquanto as lágrimas incontroláveis desciam de seus olhinhos. Aquilo mexeu comigo profundamente. Se haver alguma forma de um espírito condenado morrer, eu o farei. Farei o possível e o impossível. Perdoem-me, meus amados. Adeus.

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