quarta-feira, 2 de março de 2011

A Possessão de Giorge


Era terça-feira, as fortes gotas de chuva batiam ritmadamente na janela, como se pedissem permissão para entrar. Elisabeth estava sentada em sua poltrona, lembrando de seu falecido marido. O ar de preocupação surgiu quando avistou Giorge descendo as escadas. As roupas batidas e sujas revelavam que ele não as trocava já há algum tempo, o andar cabisbaixo e o silêncio o acompanhavam nestes últimos meses. Elisabeth caminhou até ele, que a ignorou e andou até a janela, onde ficou parado com o olhar vidrado. Marcas roxas estavam expostas em seus braços, e provavelmente haveriam mais sob suas vestes.
— Filho... o que está havendo? Você precisa se alimentar, e também dormir. Desde que seu pai... bom, desde o ocorrido, você nem sai mais de seu quarto. – Giorge voltou-se para ela, lançando-lhe um olhar profundo, como se quisesse gritar até explodir. Então começou a caminhar novamente em direção as escadas, indo para seu quarto.
Por volta de meia-noite, Elisabeth pôde ouvir sons vindos do andar de cima. Ela caminhou suavemente pelas escadas e pelo corredor, que exibia fotografias de um passado não muito distante, quando uma bela e feliz família habitava aquela casa. Os ruídos vinham do quarto de Giorge. Antes de abrir a porta, ela bateu para evitar incomodar o filho.
— Giorge, querido, o que está havendo? – Não houve resposta, mas as batidas continuavam. Preocupada, ela não esperou mais e abriu a porta.
Por alguns instantes, Elisabeth achou que iria desmaiar com o que estava vendo. No meio do quarto fora rabiscado no chão um círculo, e bem no centro encontrava-se Gulliver – o gato da família. Ele estava irreconhecível: seus órgãos internos foram arracados por um corte na barriga e seu cérebro estava sobre o travesseiro, na cama de Giorge. O rapaz estava completamente nu, com as mãos na parede e batendo a cabeça, já toda ensangüentada, com toda sua força no concreto.
— Eu sou Tchort, e não existe ninguém mais poderoso que eu. – Ele sussurrava.
— Giorge! Pare com isso, pelo amor de Deus! – As batidas cessaram, e então o garoto fitou sua mãe nos olhos, com um sorriso de deboche e com uma voz que não lhe pertencia, falou:
— Deus?
Num movimento rápido, Giorge pegou a faca que estava ao lado de Gulliver e enfiou no coração de sua mãe, fazendo-a arregalar os olhos e então dormir para sempre. Após isso, Giorge cerrou os olhos e caiu de joelhos. Seus olhos estavam vermelhos, e seus lábios estavam brancos.
— Este corpo pertence a Tchort! – A voz misteriosa saiu mais uma vez da boca de Giorge, e em seguida a lâmina que matara Elisabeth, cortara a garganta de Giorge. O quarto era só vermelho. Era só sangue.