quinta-feira, 28 de julho de 2011


Meus pés eram obrigados a sustentar meu corpo enquanto o ar gelado me abraçava num longo e frio romance. O aroma de café bailava conforme o vento e invadia minhas narinas, fazendo com que meu estômago começasse a reclamar por não ter feito minha refeição matinal. As pessoas usavam sobretudos, botas e gorros, seus olhos acompanhavam minha caminhada com curiosidade, até porque minha vestimenta não era muito adequada para um dia de inverno – eu trajava somente uma camiseta surrada sobre o lingerie. A neve agora cumprimentava meu sangue, dizia olá para meu coração, fazendo com que meus olhos lacrimejassem, quase não suportando tanto frio. Meu único pensamento era lhe encontrar, saber por que você não estava ao meu lado na cama quando despertei esta manhã. Por que você não tinha nem ido para casa após o trabalho. Senti meu pé aquecer-se por um breve instante, eu havia pisado em algo ligeiramente quente. Olhei para baixo e vi o que proporcionava tão agradável temperatura a minha pele. Um copo de café estava jogado na neve, espalhando uma mancha escura em meio a todo aquele branco que tampava totalmente o solo naquela cidade pacata. Ao lado do café derramado, um pouco molhado, havia um jornal do dia que trazia a notícia principal estampada logo na primeira página. “Neve causa acidente fatal — motorista não consegue controlar seu carro, que derrapa e cai no precipício”, trazendo logo abaixo a foto de um carro completamente em chamas. Em meio ao emaranhado de palavras, encontrei qual era o modelo do carro – o mesmo que deveria estar na garagem de casa. Meus olhos desceram automaticamente até o final da página, onde se encontrava o nome da vítima – o mesmo nome da pessoa que deveria estar em casa, desde ontem à noite. Por fim minhas pernas se cansaram de me sustentar, dobrando-se e fazendo-me cair no meio da rua. O som de freios sendo acionados chegaram aos meus ouvidos, porém meus olhos não enxergavam nada. Senti uma pancada violenta, e a partir daí não recordo-me de mais nada. Acordei aqui, neste colchão de nuvens e lençóis de céu, ao lado de quem eu pensei ter perdido para sempre.

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