quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Senti que iria vomitar e corri para o banheiro, mal sentindo meus pés tropeçarem ao tentar subir às cegas a escada que levava ao banheiro. Não recordo-me de ter aberto a porta, ou mesmo de ter acendido a luz, mas lembro-me muito bem de quando apoiei-me na pia, sentindo minha garganta arder conforme tudo que havia em meu estômago começava a descer pelo encanamento.
O espelho a minha frente refletia uma garota de cabelos loiros, lábios brancos, pele pálida e olheiras fortes abaixo de seus olhos. Esta garota tinha um olhar triste, podia-se ler ali um pedido de socorro. Era um olhar profundo, e dentro deste olhar eu vi... vi tudo o que não queria ver. Vi a noite passada, em que fiquei bêbada e drogada enquanto ouvia rock n' roll na casa da minha amiga. Lembrei-me do pé na bunda que levei da primeira pessoa que realmente amei. Lembrei-me de quando fui pular a janela no meu quarto para poder ir transar com um cara qualquer, machucando minha perna ao passar por um arbusto cheio de espinhos. E então tudo que eu conseguia ver era a escuridão, e tudo que eu podia ouvir era um grito ao longe.
(...)
Abri meus olhos e enxerguei novamente o banheiro. O espelho estava embaçado, e rabiscado nele havia um alerta: "Você não pode fugir."
— O que aconteceu? - ouvi a voz do meu irmão mais novo me enchendo o saco.
— Nada, cai fora daqui! Não sabe bater não, pirralho?
— A porta estava aberta... você... você tá bem? - pude ver o medo em seus olhos. O olhar revela muita coisa.
— Estou, agora vaza.
— É que você tava escrevendo no espelho e seus olhos estavam... estavam totalmente negros. Eu fiquei preocupado.
Um arrepio percorreu meu corpo e pude ouvir um sussurro em meu ouvido: "Viu só como você não pode fugir de mim?"

Rabisquei o sol encoberto pela poeira dos meus olhos, fiquei imóvel, esperando que a brisa chegasse e retirasse todo o ódio grudado em minha pele. O que veio por fim, foi a tempestade, molhando minhas lágrimas, secando minha boca. O arco íris refletia nos cacos quebrados do espelho que esmurrei com tanta raiva, fazendo com que o sangue vermelho e viscoso escorresse por entre meus dedos, causando uma tremenda bagunça sobre a grama tão verde que chegava a ofuscar minha visão. Minhas pernas tremiam e eu desconfiei que elas não poderiam mais me sustentar em pé por muito tempo. O suor em minhas palmas misturavam-se ao sangue já seco, penetrando por debaixo das unhas, deixando um efeito aterrorizante e ao mesmo tempo pacífico em uma aparência tão necessitada de amor.