domingo, 9 de outubro de 2011
Ossadas mexiam-se em um ritmo constante, balançando seus quadris como se a lua tivesse chorado a noite inteira. Ossos para todos olhos olhares de fogo. Fogo em todos os sorrisos patéticos, risadas emitiam sons de podridão, sons irrecuperáveis, que se perdiam no infinito, nas palavras das estrelas cadentes. O magma lhes escorria pela face, até alcançar-lhes os lábios e escurecer-lhes as presas impregnadas de veneno. A respiração inexistente, fazia com que as cortinas intrapulmonares bailassem ao bater do coração já morto há séculos. Corpos beijados pela morte e desejados pelas trevas, agradeciam à Beethoven pela bela sinfonia.
Lágrimas de sangue
Suas asas batiam conforme o vento passava entre elas, entre seus sentimentos feridos por uma simples mortal. Mas não, ele não chorava, ao invés disso, ele utilizava este tempo para planejar sua doce vingança, a sensação mais saborosa. Podia ver-se refletido em seus olhos a tortura desejada por ele, o medo na face de sua bela amada, que o rejeitou. Suas asas enegrecidas, asas de morcego expressavam o tempo em cada batida. Quem choraria esta noite não seria ele. A destruidora de corações, hoje antes de ir dormir, sonharia acordada o pior pesadelo - o amor não-correspondido, a vingança de um anjo com auréolas quebradas, um anjo caído. Hoje ela chorará lágrimas de sangue.
Seus olhos violetas emitiam um rugido, tremendo a lua congelada. Os cristais de sangue quebraram-se sob os pés de vidro, que bailavam em um ritmo incendiante. As letras impressas em suas impressões digitais revelavam o coração (o que é isso?) escondido pela máscara dourada. A pele queimada pelos sorrisos das estrelas arrastavam-se com o sacolejar de seus ossos, seus corpos cadavéricos, engolindo-os pouco a pouco, assm como uma criança engole um leão. Os isqueiros liberavam a liberdade, o gelo para acender seus charutos imaginários, equilibrados entre os lábios docemente coloridos. E a negridão em seus olhos observavam calmamente cada borboleta que subia das trevas.
Pesadelo?
Suas mãos tremiam descontroladamente, mas a faca permanecia firmemente presa entre seus dedos, sendo pressionada com uma força que ele mesmo desconhecia. O sangue escorria pela superfície prateada e gotejava sobre uma poça formada sobre o carpete velho da sala de jantar. Dois olhos na escuridão refletiam o medo da pequena criança, que encolhida no canto do cômodo, aguardava, com lágrimas rolando silenciosamente pelo seu rosto, o momento de sua morte. Soluçava alto cada vez que recordava a cena que vira alguns minutos atrás: seus pais estirados sem vida sobre a cama encharcada de sangue. Agora seu olhar estava fixo naquele homem de vestes pretas e máscara que segurava uma faca que provavelmente assassinara sua família.
A tábua do assoalho rangeu assim que o sujeito mal encarado deu um passo em direção ao garoto, que se encolheu mais um pouco - mesmo que isso parecesse impossível de acontecer. Os olhos que há pouco brilhavam, desapareceram em meio ao breu. O assassino aproximou-se lentamente do menino, até que pudesse sentir sua respiração ofegante. O garoto tremeu em um ligeiro calafrio, e já esperando há algum tempo, decidiu abrir os olhos para verificar se o homem ainda estava por ali. Assim que suas pálpebras se abriram, a luz invadiu sua mente, fazendo com que ele piscasse rapidamente para que tudo entrasse novamente em foco. Ele estava de volta em seu quarto e o sol brilhava alto num céu sem nuvens. Calçou suas pantufas ao pé da cama e rumou para o corredor, rezando para que tudo tivesse sido apenas um sonho ruim. Parou em frente a porta de madeira, onde ficava o quarto de seus pais.
— Mamãe? - sua voz saiu rouca e trêmula. - Papai?
O silêncio foi tudo que obteve como resposta. Uma gota de sangue pingou da maçaneta, enquanto lágrimas brotavam mais uma vez em seus doces olhos.
— Mamãe? - sua voz saiu rouca e trêmula. - Papai?
O silêncio foi tudo que obteve como resposta. Uma gota de sangue pingou da maçaneta, enquanto lágrimas brotavam mais uma vez em seus doces olhos.
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