segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Noite no cais


O som da calmaria o inspirava a criar as mais belas composições no violão — lógico que aquele sorriso lindo que ela lhe mostrava, o inspirava mais ainda. Ela olhava com atenção o movimento que ele fazia enquanto seus dedos experimentavam cada combinação possível de acordes, e o brilho em seu olhar aumentava ao perceber o quanto ela o amava. Joshua vez uma breve pausa para poder beijar-lhe a testa, fazendo com que Lize se arrepiasse. Ela lhe tomou o violão de suas mãos, e então ele se deitou, ouvindo o som das ondas naquela noite quente, enquanto esperava curioso por qual música ela tocaria, apesar que isto não importasse muito... mesmo se ela tocasse tudo errado, seria a melhor música do mundo, somente por ser tocada por aquelas doces mãos.

— Vou modificar um pouquinho a música, mas creio que ficará bem melhor do jeito que cantarei.
— Tenho certeza de que vou adorar. – E ele ia mesmo.
— “Aquela noite no cais, não quero que acabe jamais, tocando violão pra você...”

Ele fechou os olhos, respirou fundo sentindo o perfume que ela passara mais cedo, guardando cada minuto daquele momento que se recordará para sempre.

(Amar)elo


— Eu te amo.
— Também te amo.
Folhas amareladas pela ação da mudança de estação caíam numa sincronia, como se bailassem para o céu contemplar-lhes. A atuação da brisa de outono estava saindo como a natureza planejara, a fim de manter a chama do amor acesa na pequena caixinha no peito daqueles dois grandes amantes.

Os passos marcavam a neve, enquanto a mesma penetrava no coração da garota apaixonada, porém com problemas. Problemas que somente a lua conhece, pois foi a única que compartilhou as noites afogadas em lágrimas. Os punhos cerrados, tentando reunir toda a coragem que havia dentro dela – se é que havia ainda. Como a mãe dela dissera mais cedo: “Você merece coisa melhor, como será teu futuro com alguém que usa drogas e não faz nenhum esforço para sair dessa? Sei que você o ama, mas quantas vezes ele te maltratou? Você tem que se amar em primeiro lugar.”
Hoje ele não usara as drogas, ainda. Precisava aproveitar que o sol nem havia nascido ainda e ele provavelmente estaria dormindo, para dar-lhe a notícia do término do namoro. Ela odiava admitir, mas sua mãe estava certa. Ele não tem conserto. Ele não quer ajuda. Mas ela quer ser feliz, e irá. Ela entrou em seu apartamento – a chave estava sob o extintor no corredor, esconderijo que ele usava desde que fora morar ali.
— Dan? Bom dia...

— Oi meu amor! Que bom acordar e ver teu rosto.

— Mas hoje será o último dia. – Ela tentava esconder toda a tristeza de seu coração quebrado.
— O quê? Você está terminando comigo? - Dan sentou-se rápido, dava para ver em seus olhos que ele não acreditava no que estava ouvindo.
— Sim...
— Eu te amo! – Sussurrou ele.
— Eu também te amei, infelizmente. – Ele realmente acreditara na frieza em que ela depositara nas palavras.
Ele abaixou os olhos, e chorou silenciosamente, enquanto ela segurava o choro e descia as escadas, sabendo que ele realmente a amava.

Os dias foram novamente invadidos pelo amarelo. Dan caminhava em direção ao trabalho, porém seu caminho foi interrompido. Não, não era a abstinência mais uma vez... decidira largar de uma vez as drogas, antes que perdesse algo mais que fosse importante para ele. Não tanto quanto Samantha, porém ainda importante. Aliás, ele parou em frente a cafeteria e ficou a observando enquanto ela tomava café, enquanto uma lágrima escorria por suas bochechas, escrevendo em sua face a palavra ‘saudade’.

Ghost Flowers


A pequena criança parou abruptamente de correr ao se deparar com a pior cena que vira em sua (curta) vida, levou a mão à boca, enquanto seus olhos pareciam que iam pular de sua face. Minutos antes, ela corria livremente pelo campo florido, sorrindo para o céu azul, e não se preocupava com absolutamente nada — como é normal de uma criança. Mas ao chegar ao topo daquela colina, chegara (sem saber) no cemitério das estrelas. As flores fantasmas cobriam os corpos dilacerados pelo suicídio da felicidade. A leve brisa de primavera fazia com que asas quebradas balançassem calmamente, esmagando algumas daquelas flores cinza. Algo brilhou intensamente assim que ela começou a dar um passo para trás, boquiaberta com a situação em que se encontrava, fazendo com que ela fechasse seus doces olhos verdes rapidamente, num reflexo involuntário de proteção (ao coração). Assim que recuperara a calma, decidiu abrir lentamente seus olhos, e assim que o fez, percebera que estava pisando em cima de algo brilhante de uma cor que não existia na terra. Sua mão ardeu por um momento ao tocar naquele objeto, e, analisando-o um pouco melhor, descobriu que se tratava de uma auréola, mas ela estava quebrada. Colocou-a delicadamente no bolso do seu jeans novinho, pensando em levar para casa e mostrar para sua mamãe. Virou-se para começar a correr no sentido do chalé em que ela morava, e instantaneamente uma ventania muito forte começou. Assustada, correu o mais rápido que pôde, abriu o portão de madeira e foi direto para a cozinha, onde uma mulher ruiva fazia o almoço.
— Mamãe, mamãe! Eu tava correndo pelo campo e de repente encontrei um lugar muito feio, que cheirava a morte, infelicidade e maldade!!! Quer ver, eu trouxe uma prova de que é verdade!
— Lenna, acalme-se! Parece que você vai respirar todo o ar da casa! Qual é a tralha que você achou dessa vez?
Lenna enfiou a mão no bolso, mas não encontrou nada ali. A única coisa que havia ali era uma espécie de pó muito fino.
— Helenna, quantas vezes eu já te disse pra não colocar terra nos bolsos?
— Desculpe mamãe... — A criança abaixou a cabeça e foi para seu quarto, pensando se mais uma vez realmente imaginara tudo aquilo.

Esse tal de amor

— Posso sentar-me?
— O bar não é meu, a cadeira não é minha. Faça o que quiser.

Ele puxou uma cadeira e sentou-se, observando-a atentamente.

— Complicado, não é?
— O quê?
— Esse tal de amor.
— Não sei.
— Não sabe?
— É.
— Se eu fosse o cara que você gosta, não te deixaria derrubar lágrimas.
— O amor não faz mais parte da minha vida. E você nem me conhece.
— Não preciso conhecer para perceber que você está sofrendo.
— Você também sofre?
— Não sei.
— Não sabe?
— É.

Ela revirou os olhos ironicamente.

— Agora a pouco conheci uma garota que, creio eu, está sofrendo mais do que eu. Mas ela é forte, e eu gosto quando ela segura minha mão.
— Ela nem tocou em ti.
— Mas
irá.

Ele sorriu, levantou-se, e sumiu em meio a multidão que assistia a um show qualquer. A garota abaixou a cabeça e seus olhos se encheram de lágrimas novamente assim que a banda começou a tocar uma música romântica.

— Me concede uma dança? Seria uma honra dançar com a senhorita.

Seus olhos úmidos encontraram novamente o sorriso que vira a pouco, só que desta vez havia uma mão estendida em sua direção, esperando pela sua.

— Claro.

Ela sorriu.