Alice no País das Não-Maravilhas
Por Jéssica Dias
Flores jogavam
suas delicadas pétalas para longe, a favor do vento, enquanto seu cheiro ainda
impregnava o ar de primavera. Os animais ainda corriam pelos campos,
desesperadamente atraídos pelo aroma de fruta doce. As águas seguiam seu curso
naturalmente, levando embora qualquer impureza que pudesse murchar o fim desta
estação. Mas Alice, ah, Alice... esta deitava-se despreocupadamente no gramado
ainda úmido pelo orvalho, morcegando sob o suave sol da manha, observando
atentamente cada formiga que, com grande esforço, levava uma folhinha para seu
aconchego. A doce menina tirou de sua pequena bolsa um livro, cujos boatos
diziam que ele revelava cada maravilha existente em seu país. A capa já estava
meio surrada, algumas pessoas já o haviam folheado calmamente, outras nem tão
calmamente assim, o que fez com que umas páginas se soltassem parcialmente, mas
nada que impedisse a garota ter uma boa leitura.
Quem
sabe o que eu estou tentando explicar, já conhece o sabor que tais palavras ali
escritas têm, mas para que não faz ideia do que estou falando, irei explicar.
Mesmo quem sabe e duvidaç do seu próprio pensamento, irás comprovar de que
realmente tudo não passa de um sonho, porém, é nos sonhos que vivemos nossos
mais profundos desejos, desejos em forma de sonhos que queríamos que fossem
reais.
Os
pequenos olhos negros de Alice examinaram cada pedaço visível do livro, já
imaginando o que iria encontrar pela frente. Seus dedos delicados tocaram a
capa com muita calma, fazendo com que cada pelo de seu corpo arrepiasse-se de
uma maneira que a fez delirar. Mal podia
conter em si tanta ansiedade, e num momento inesperado, abriu
sorrateiramente o livro, exibindo logo a apresentação. Como qualquer pessoa que
está se mordendo de curiosidade, Alice pulou imediatamente para a página onde
dizia “Capítulo um”. Assim o fazendo, começou a lê-lo, com a ambição de uma
garota com sede de sabedoria e louca para saber de tais maravilhas. Pensava
consigo mesma se talvez era possível adquirir estas para ela mesma, quem sabe
para passar um dia de inverno sob o cobertor, ou um dia de verão em companhia
na sorveteria. Seus pensamentos rondavam em torno e exclusivamente do dito cujo
de páginas levemente amareladas.
Quando
o sol alcançava muito perto de meio-dia, Alice finalmente encontrou o “Fim” em
seu pequeno devaneio. Sua emoção era tanta que mal podia conter-se em
experimentar as suas maravilhas, para
que de uma vez pudesse acordar deste sonho. Ao fechar o livro novamente, o
mesmo encontrava-se novamente preparado e vitalizado para poder revelar seus
mais misteriosos segredos para o próximo disposto a encontrar a alegria no
mundo dos sonhos. Sonhos de palavras. A menina fechou os olhos e recapitulou
cada palavra que havia aprendido e decorado, montando um vocabulário
conveniente para não passar vergonha na frente de suas adoráveis maravilhas. Levantou-se
de repente e sentiu o vento na cara, sentiu a sombra das nuvens e sentiu a
felicidade dos pássaros. Podia muito bem voltar para casa a tempo do almoço,
mas se não conhecesse naquele dia mesmo o tal país das maravilhas, iria ter um
treco.
Caminhava
atentamente em busca de qualquer coelho que pudesse vir a cruzar seu caminho,
prestando atenção para não perder um movimento qualquer que ocorresse em sua
caminhada. Após suas pernas começarem a adormecer e não obteve nenhum resultado
instantâneo em seus desejos momentâneos, prestou atenção ao que diziam os
ponteiros de seu relógio de pulso, presente de seu pai no ultimo aniversario,
há algumas semanas, pois ele dizia que ela deveria saber lidar com o tempo, que
passa depressa e a gente não vê. Os ponteiros lhe diziam que ela estava
muitíssimo atrasada, mais do que o tal coelho, por isso não estava o
encontrando – ele já devia estar lá no país.
A
garota desacelerou os passos, desanimada, pois sem o animal jamais conseguiria
encontrar a entrada para a realização de seu mais novo sonho. Andava devagar e
cabisbaixa, já descrente de seu destino final, onde esperava encontrar a
solução para saber lidar com o tempo. Seus pequenos pés seguiam um rumo
indefinido, seguiam sozinhos, para onde quisessem ir. E levaram-na através de
flores, de espinhos e de frutos, até chegarem a um ponto onde iria acontecer o
fato. Alice desmoronou. Seus músculos contraíram-se buscando um refúgio em si
mesma, sentindo as borboletas no estomago de que finalmente conseguira o que
queria. Alice realmente havia encontrado o buraco a que deveria pertencer, mas
não era o que ela esperava. Sonhos às vezes não são o que estamos esperando. Às
vezes, sonhos podem transformar-se em pesadelos.
R.I.P
Alice – 1876-1884
Descanse em paz no seu País das Maravilhas
Alice – 1876-1884
Descanse em paz no seu País das Maravilhas