segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Alice no País das Não-Maravilhas
Por Jéssica Dias

Flores jogavam suas delicadas pétalas para longe, a favor do vento, enquanto seu cheiro ainda impregnava o ar de primavera. Os animais ainda corriam pelos campos, desesperadamente atraídos pelo aroma de fruta doce. As águas seguiam seu curso naturalmente, levando embora qualquer impureza que pudesse murchar o fim desta estação. Mas Alice, ah, Alice... esta deitava-se despreocupadamente no gramado ainda úmido pelo orvalho, morcegando sob o suave sol da manha, observando atentamente cada formiga que, com grande esforço, levava uma folhinha para seu aconchego. A doce menina tirou de sua pequena bolsa um livro, cujos boatos diziam que ele revelava cada maravilha existente em seu país. A capa já estava meio surrada, algumas pessoas já o haviam folheado calmamente, outras nem tão calmamente assim, o que fez com que umas páginas se soltassem parcialmente, mas nada que impedisse a garota ter uma boa leitura.
                Quem sabe o que eu estou tentando explicar, já conhece o sabor que tais palavras ali escritas têm, mas para que não faz ideia do que estou falando, irei explicar. Mesmo quem sabe e duvidaç do seu próprio pensamento, irás comprovar de que realmente tudo não passa de um sonho, porém, é nos sonhos que vivemos nossos mais profundos desejos, desejos em forma de sonhos que queríamos que fossem reais.
                Os pequenos olhos negros de Alice examinaram cada pedaço visível do livro, já imaginando o que iria encontrar pela frente. Seus dedos delicados tocaram a capa com muita calma, fazendo com que cada pelo de seu corpo arrepiasse-se de uma maneira que a fez delirar. Mal podia  conter em si tanta ansiedade, e num momento inesperado, abriu sorrateiramente o livro, exibindo logo a apresentação. Como qualquer pessoa que está se mordendo de curiosidade, Alice pulou imediatamente para a página onde dizia “Capítulo um”. Assim o fazendo, começou a lê-lo, com a ambição de uma garota com sede de sabedoria e louca para saber de tais maravilhas. Pensava consigo mesma se talvez era possível adquirir estas para ela mesma, quem sabe para passar um dia de inverno sob o cobertor, ou um dia de verão em companhia na sorveteria. Seus pensamentos rondavam em torno e exclusivamente do dito cujo de páginas levemente amareladas.
                Quando o sol alcançava muito perto de meio-dia, Alice finalmente encontrou o “Fim” em seu pequeno devaneio. Sua emoção era tanta que mal podia conter-se em experimentar as suas maravilhas, para que de uma vez pudesse acordar deste sonho. Ao fechar o livro novamente, o mesmo encontrava-se novamente preparado e vitalizado para poder revelar seus mais misteriosos segredos para o próximo disposto a encontrar a alegria no mundo dos sonhos. Sonhos de palavras. A menina fechou os olhos e recapitulou cada palavra que havia aprendido e decorado, montando um vocabulário conveniente para não passar vergonha na frente de suas adoráveis maravilhas. Levantou-se de repente e sentiu o vento na cara, sentiu a sombra das nuvens e sentiu a felicidade dos pássaros. Podia muito bem voltar para casa a tempo do almoço, mas se não conhecesse naquele dia mesmo o tal país das maravilhas, iria ter um treco.
                Caminhava atentamente em busca de qualquer coelho que pudesse vir a cruzar seu caminho, prestando atenção para não perder um movimento qualquer que ocorresse em sua caminhada. Após suas pernas começarem a adormecer e não obteve nenhum resultado instantâneo em seus desejos momentâneos, prestou atenção ao que diziam os ponteiros de seu relógio de pulso, presente de seu pai no ultimo aniversario, há algumas semanas, pois ele dizia que ela deveria saber lidar com o tempo, que passa depressa e a gente não vê. Os ponteiros lhe diziam que ela estava muitíssimo atrasada, mais do que o tal coelho, por isso não estava o encontrando – ele já devia estar lá no país.
                A garota desacelerou os passos, desanimada, pois sem o animal jamais conseguiria encontrar a entrada para a realização de seu mais novo sonho. Andava devagar e cabisbaixa, já descrente de seu destino final, onde esperava encontrar a solução para saber lidar com o tempo. Seus pequenos pés seguiam um rumo indefinido, seguiam sozinhos, para onde quisessem ir. E levaram-na através de flores, de espinhos e de frutos, até chegarem a um ponto onde iria acontecer o fato. Alice desmoronou. Seus músculos contraíram-se buscando um refúgio em si mesma, sentindo as borboletas no estomago de que finalmente conseguira o que queria. Alice realmente havia encontrado o buraco a que deveria pertencer, mas não era o que ela esperava. Sonhos às vezes não são o que estamos esperando. Às vezes, sonhos podem transformar-se em pesadelos.
R.I.P
Alice – 1876-1884
Descanse em paz no seu País das Maravilhas

Nenhum comentário:

Postar um comentário