quinta-feira, 14 de março de 2013


Um dia me disseram que eu podia ser quem eu quisesse. Hoje eu tirei essa ideia a limpo. Primeiro fui um leão, somente observando o que acontecia em minha volta… Esperando o momento certo para atacar, e rugindo quando me provocavam. Depois virei estrela. Longe, longe… deixando-me ser observada e admirada pelo meu brilho, mesmo já estando morta. Por fim virei saudade, agarrando-me, abraçando-me em ti. Acho que estou me transformando em amor…

segunda-feira, 5 de novembro de 2012


Alice no País das Não-Maravilhas
Por Jéssica Dias

Flores jogavam suas delicadas pétalas para longe, a favor do vento, enquanto seu cheiro ainda impregnava o ar de primavera. Os animais ainda corriam pelos campos, desesperadamente atraídos pelo aroma de fruta doce. As águas seguiam seu curso naturalmente, levando embora qualquer impureza que pudesse murchar o fim desta estação. Mas Alice, ah, Alice... esta deitava-se despreocupadamente no gramado ainda úmido pelo orvalho, morcegando sob o suave sol da manha, observando atentamente cada formiga que, com grande esforço, levava uma folhinha para seu aconchego. A doce menina tirou de sua pequena bolsa um livro, cujos boatos diziam que ele revelava cada maravilha existente em seu país. A capa já estava meio surrada, algumas pessoas já o haviam folheado calmamente, outras nem tão calmamente assim, o que fez com que umas páginas se soltassem parcialmente, mas nada que impedisse a garota ter uma boa leitura.
                Quem sabe o que eu estou tentando explicar, já conhece o sabor que tais palavras ali escritas têm, mas para que não faz ideia do que estou falando, irei explicar. Mesmo quem sabe e duvidaç do seu próprio pensamento, irás comprovar de que realmente tudo não passa de um sonho, porém, é nos sonhos que vivemos nossos mais profundos desejos, desejos em forma de sonhos que queríamos que fossem reais.
                Os pequenos olhos negros de Alice examinaram cada pedaço visível do livro, já imaginando o que iria encontrar pela frente. Seus dedos delicados tocaram a capa com muita calma, fazendo com que cada pelo de seu corpo arrepiasse-se de uma maneira que a fez delirar. Mal podia  conter em si tanta ansiedade, e num momento inesperado, abriu sorrateiramente o livro, exibindo logo a apresentação. Como qualquer pessoa que está se mordendo de curiosidade, Alice pulou imediatamente para a página onde dizia “Capítulo um”. Assim o fazendo, começou a lê-lo, com a ambição de uma garota com sede de sabedoria e louca para saber de tais maravilhas. Pensava consigo mesma se talvez era possível adquirir estas para ela mesma, quem sabe para passar um dia de inverno sob o cobertor, ou um dia de verão em companhia na sorveteria. Seus pensamentos rondavam em torno e exclusivamente do dito cujo de páginas levemente amareladas.
                Quando o sol alcançava muito perto de meio-dia, Alice finalmente encontrou o “Fim” em seu pequeno devaneio. Sua emoção era tanta que mal podia conter-se em experimentar as suas maravilhas, para que de uma vez pudesse acordar deste sonho. Ao fechar o livro novamente, o mesmo encontrava-se novamente preparado e vitalizado para poder revelar seus mais misteriosos segredos para o próximo disposto a encontrar a alegria no mundo dos sonhos. Sonhos de palavras. A menina fechou os olhos e recapitulou cada palavra que havia aprendido e decorado, montando um vocabulário conveniente para não passar vergonha na frente de suas adoráveis maravilhas. Levantou-se de repente e sentiu o vento na cara, sentiu a sombra das nuvens e sentiu a felicidade dos pássaros. Podia muito bem voltar para casa a tempo do almoço, mas se não conhecesse naquele dia mesmo o tal país das maravilhas, iria ter um treco.
                Caminhava atentamente em busca de qualquer coelho que pudesse vir a cruzar seu caminho, prestando atenção para não perder um movimento qualquer que ocorresse em sua caminhada. Após suas pernas começarem a adormecer e não obteve nenhum resultado instantâneo em seus desejos momentâneos, prestou atenção ao que diziam os ponteiros de seu relógio de pulso, presente de seu pai no ultimo aniversario, há algumas semanas, pois ele dizia que ela deveria saber lidar com o tempo, que passa depressa e a gente não vê. Os ponteiros lhe diziam que ela estava muitíssimo atrasada, mais do que o tal coelho, por isso não estava o encontrando – ele já devia estar lá no país.
                A garota desacelerou os passos, desanimada, pois sem o animal jamais conseguiria encontrar a entrada para a realização de seu mais novo sonho. Andava devagar e cabisbaixa, já descrente de seu destino final, onde esperava encontrar a solução para saber lidar com o tempo. Seus pequenos pés seguiam um rumo indefinido, seguiam sozinhos, para onde quisessem ir. E levaram-na através de flores, de espinhos e de frutos, até chegarem a um ponto onde iria acontecer o fato. Alice desmoronou. Seus músculos contraíram-se buscando um refúgio em si mesma, sentindo as borboletas no estomago de que finalmente conseguira o que queria. Alice realmente havia encontrado o buraco a que deveria pertencer, mas não era o que ela esperava. Sonhos às vezes não são o que estamos esperando. Às vezes, sonhos podem transformar-se em pesadelos.
R.I.P
Alice – 1876-1884
Descanse em paz no seu País das Maravilhas

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um amor desperdiçado, uma alma sedutora e um abraço da morte.





Um casamento conturbado pela perda de um filho recém-nascido, uma esposa em depressão e um marido necessitado de uma atenção que ele não recebe. Isto faz com que Odorico busque algo a mais fora de seu relacionamento, após descobrir os encantadores olhos negros de Olga que o seduziu no momento e que compartilharam a primeira taça de vinho na festa da cidade, enquanto Madelaine vivia em um mundo de sonhos – e pesadelos.
Ø  Capítulo 01
Madelaine encontra-se deitada de camisola em sua cama, com os cabelos desgrenhados e o canto dos olhos sujos. Enquanto o odor de sua falta de banho impregnava o quarto, ela sonhava com seu filho. Ele vinha em sua direção e sorria para ela, de uma maneira que a fazia sentir-se novamente viva. De mãos dadas, caminharam em silencio por um bom tempo pelo campo, até finalmente sentarem-se sobre uma pedra e ele sussurrar-lhe em seu ouvido:
— Continue firme mamãe, levante-se e ame a si mesma e a teu marido. Ame antes que tudo o que reste seja o amor desperdiçado. Ame antes que não seja mais possível amar.
        Madelaine abriu os olhos, decidida a mudar sua visão do mundo, antes que fosse tarde demais. Já tinha perdido muito tempo, e além do tempo tinha perdido muito amor que ignorava. Saiu da cama e foi direto para o banheiro, dar uma ducha em sua vida, limpar toda a sujeira acumulada em sua alma. Lembrava-se vagamente de que seu marido iria a algum lugar hoje, porém não sabia onde. Ao chegar na cozinha, percebeu o panfleto que anunciava a festa da cidade. Era para lá que seu caminho estava traçado, em busca de sua antiga vida de volta.

Ø  Capítulo 02
        Como que de uma maneira incontrolável, as mãos de Odorico encontravam-se em volta das cinturas de Olga, aquela linda mulher que lhe olhava de uma maneira onde perdia-se em tentação. Era naqueles lábios que encontrava sua tão desejada atenção, o amor que tinha perdido há tanto tempo. Ao som da música distante, atrás de algumas árvores que ficavam ao redor do estacionamento, os dois trocavam carícias, sedentos por um carinho e atenção que choravam por sua falta.
        Madelaine dirigia seu Caravan 77, coberto pelo pó que ali pousava sobre o tempo em que tornou-se inutilizado. Ao chegar na entrada do estacionamento percebeu o carro de seu marido, um Maverick  76 preto parado próximo a algumas árvores mais distanciadas. Estacionou seu carro ao lado do dele, e após trancar o carro, percebeu vozes e uma movimentação estranha logo atrás das árvores. Curiosa como sempre fora, decidira verificar o que estava acontecendo ali. Ao passar por entre os troncos já meio velhos, reconheceu os cabelos castanhos de seu querido marido imediatamente. Porém ele não estava sozinho. Estava envolto a uma loira de olhos mais negros que o céu da noite.

Ø  Capítulo 03               
       
Acobertada pela folhagem, a presença de Madelaine não fora percebida pelos dois amantes, que no momento tinham sua atenção voltada apenas um para o outro, sem perceber nada que estivesse ocorrendo em seu redor, podendo o mundo acabar e os dois morrerem aos beijos e abraços. A esposa dominada pelo ódio de ser traída, recordava-se muito bem de que seu marido guardava um calibre 38 embaixo do banco do passageiro em seu automóvel. Com os mais cuidadosos movimentos, dirigiu-se até o carro de seu esposo, para que não despertasse a suspeita de ninguém, e com esperança de que estivesse destrancado, puxou o trinco com calma. E para a sua sorte, Odorico tinha uma memória horrível, e desde os tempos de namoro vivia deixando o carro sem trancar. Não sabia como nunca tivera o veículo roubado.     
        Como de costume, o revólver estava o mesmo local de sempre. Retirou-o com cuidado, verificou a munição e escondeu-o na bolsa. Porém, junto com a arma, havia um pequeno frasco com um líquido dentro – na etiqueta dizia que era Clorofórmio. Madelaine sabia muito bem para quê servia, alguns anos trabalhando como enfermeira serviu-lhe para ter alguns bons conhecimentos.            
        Entrou em seu Caravan e retornou para casa. Recostou-se em uma poltrona meio mofada pelo tempo e ali aguardou o retorno de seu marido.              

Ø  Capítulo 04               
       
Odorico abriu a porta e surpreendeu-se ao ver sua mulher fora da cama.          
        — Madelaine! Finalmente decidiu sair da cama!!           
        — Percebi o quanto eu estava perdendo, ficando apenas em meu mundo. Inclusive perdi várias coisas já, e uma delas é você.  
        — Querida, não diga isto, sempre estarei contigo. – Um abraço surgiu entre os dois.
        Em uma das mãos de Madelaine ela segurava firmemente um pedaço de pano, molhado com o clorofórmio encontrado no Maverick. Neste abraço da morte, Madelaine colocou o pano no rosto do marido, fazendo com que ele caísse quase imediatamente.
        A calma com que Madelaine manipulava a faca de cortar carnes, já um pouco enferrujada era impressionante. Teve um pouco de dificuldades para tornar-se viúva, pois a faca já não cortava a carne com tanta facilidade. Porém, mesmo de modo dificultoso, conseguiu perfurar a garganta de seu amado. Amado que tinha abandonado seu amor. E que agora abandonaria sua vida.    
        Após tirar-lhe o brilho da vida de seus olhos azuis, arrastou-o até o quintal no fundo de sua casa, onde o muro era alto o suficiente para que ninguém desconfiasse de nada. Ali cavou por 2 dias, até o buraco ter uma profundidade suficiente que não deixasse a alma de seu falecido escapar. 

        Odorico foi dado como desaparecido após a festa, sua esposa não sabia de nada, pois era uma pobre doente e não saía mais de sua cama. Filhos não tinha – o único que tivera morrera quando tinha apenas 5 meses de vida, vítima de uma forte tuberculose.   
        Um amor desperdiçado, uma alma sedutora e um abraço da morte.

sábado, 2 de junho de 2012

Cinza primavera


Eu fico sentada, observando o céu pela janela. Ele está tão cinza. O que há de errado? A chuva cai sem parar. O frio toma conta. A tristeza está no ar. Os carros passam por cima dos jardins, esmagando todas as flores que plantei com tanto amor. Por que as pessoas estão desesperadas? Eu, aqui dentro de minha fortaleza, continuo  sem entender. Não quero me arriscar. Vai que eu também enlouqueça? Prefiro ficar quieta, olhando as fotografias de um passado recente. Com sorrisos, amigos, balões. Isso me revolta. Onde foi parar tudo isso? Num ataque de raiva, as fotografias agora se encontram rasgadas no meu colo. Continuo a olhar o céu cinza, e a chuva a cair. Será que vai demorar muito pra primavera voltar?

terça-feira, 17 de abril de 2012

Eternos imutáveis.


Não deixe que morra em palavras, pois com a amnésia popular do amor, algumas letras acabam ficando para trás, e no fim o “namorada” perde o “amor” e deixa para nós somente o “nada”. Não deixe que o vento carregue o mais leve olhar apaixonado, e não deixe também que as ondas do mar carreguem nossos beijos molhados para o horizonte. Quero que permaneça nossos sentimentos colados aos nossos abraços mais apertados, eternos imutáveis.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

a(mô)r


Espero que as estrelas permitam que o brilho delas que constam em seu olhar, chegue até minha alma, como sempre o faz, desde que o mundo foi criado, desde que o primeiro sorriso foi dado, desde que o amor foi inventado. Que os anos lhe deixem à vontade para escolher quem será atingido por sua ternura, como faz comigo, como te amo e te quero sempre bem. Quero que suas mãos segurem as minhas como se o mundo fosse acabar no segundo seguinte, assim como os abraços mais apertados. Feliz aniversário, Mona. Eu te amo demais.